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Psicoterapia salva vidas

Reencontrei na sexta-feira um amigo de faculdade a quem não via há mais de 15 anos. Rosto magro, olhos encovados, cabelos mais brancos do que loiros e sem corte. Vi um homem muito maltratado pelas adversidades da vida. A voz fraca, o olhar sem o vigor de antes nem a curiosidade dos  encantados com o futuro. Via-se com facilidade que a alma sangrava e o corpo refletia as dores internas. Perguntei-lhe se estava bem; ele sorriu sem força e respondeu: “Não. Quase nada está bem”. Nós estávamos no prédio do consultório, mas preferi estender a conversa em clima mais descontraído. Convidei-o para tomar um café. Ele aceitou. Tomamos o café olhando um para o outro, mas ambos em silêncio. Eu esperava que ele me contasse o que claramente o angustiava. Ele talvez estivesse com receio de mostrar-se tão fragilizado e confuso. Eu sabia que a grande dificuldade dele era admitir que precisava de ajuda, qualquer tipo de ajuda.

É assim que normalmente sentem/agem pessoas muito inteligentes, com a crença da autossuficiência, rígidas nos comportamentos e sem humildade  para compreender que não há no mundo quem não precise de outras pessoas. Senti pena e ternura. Invadiu-me a costumeira sensação de impotência face ao sofrimento alheio em que a solução depende de um movimento da própria pessoa, movimento de busca, de ampliação da visão de vida por enfoque diferente.

Tomamos o café, comemos nossos croissants e resolvi ser invasiva: “F. desculpe a franqueza, mas mesmo que eu não fosse psicóloga poderia perceber que você está precisando de ajuda.” Ele fez que sim com a cabeça, me autorizando a prosseguir. “Então, por favor, deixe de orgulho besta e me conte o que tanto atormenta você.” Acho que ele estava no limite do sofrimento porque aceitou subir ao consultório e por duas horas abriu toda a caixinha de dores que o sufocavam. Não posso contar além desse ponto, claro. Apenas posso acrescentar que ele saiu do consultório decidido a procurar uma amiga minha que também é psicoterapeuta.

Trouxe esse relato apenas para alertar: há muitas  pessoas com grande capacidade intelectual, enorme disposição para trabalhar e perseguir sonhos, mas que se perdem na caminhada. Por que se perdem? Resposta: Por que são invadidas por forças psíquicas inconscientes que sabotam as ações delas, “roubam” energia, desorganizam as idéias, desviam do foco, confundem e causam toda sorte de prejuízo. É mais comum isso ocorrer quando a pessoa tem por função principal o pensamento e sempre negligencia a função emoção. Com o emocional em desequilíbrio, diante de situações de conflito ou pressão, as emoções desreguladas tomam a frente, invadem o ser e fazem a pessoa agir de forma contrária ao que manda a razão. Elas chegam a estranhar e pensar: “não me reconheço, não sei porque fiz isso, não faz sentido, não sou assim…” Em verdade, quem agiu foi a sub-personalidade “constelada”, o complexo. E podem ser diferentes  complexos: materno, paterno, de Édipo, de salvador, de púer, etc.

Porque uma pessoa inteligente se nega, por tanto tempo a buscar terapia, mesmo tendo condições econômicas para fazê-lo e conhecendo essa possibilidade de ajuda? Acredito ser preconceito e introjeção de idéias próprias do senso comum: “terapia é coisa pra doido”, “eu não sou doente”, ou “eu posso resolver meus problemas sozinho”, “quem pode entender melhor meus problemas do que eu mesmo?”, “não vou pagar pra ficar contando meus problemas pra ninguém”, “todo psiquiatra ou psicólogo é mais doido do que os pacientes deles”  ou ainda “se psicólogo pudesse ajudar os outros, todos seriam as pessoas mais feliz e bem-realizadas do mundo”.

Em resumo, um festival de absurdos. São percepções inteiramente equivocadas, mas dissertar sobre cada uma delas demandaria muito espaço. Quem já fez psicoterapia com um bom profissional, quem sabe o que é psicoterapia, enxerga de modo inteiramente diverso desses pensamentos “fechados”, obtusos e responsáveis por grandes prejuízos em muitos casos. O objetivo deste texto é provocar o questionamento interno em quem se identificar numa situação de perplexidade diante de fracassos racionalmente inexplicáveis e repetitivos ou de intenso sofrimento face a algo que dá a sensação de impotentência. Quantos de nós se lembra do que passou nos primeiros anos de vida ou até mesmo na fase intra-uterina? Como podemos nos defender dos efeitos de traumas inconscientes? Efetivamente a psicoterapia salva vidas, reestrutura caminhadas, devolve às pessoas a possibilidade de serem felizes, a partir do encontro delas com elas mesmas, sem autossabotagens de ordem psicológica.  Por que resistir à ideia de viver melhor, com mais leveza, sem pressões do ego? Sem ser vítima de sub-personalidades desconhecidas? Não me parece uma escolha inteligente. Qual é o verdadeiro temor? O que está por trás dessa resistência. Há uma resposta diferente para cada caso!

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Ser chique é ser adequado

A expressão “regras de etiqueta e boas maneiras” soa antiquada e pode lembrar algo ultrapassado. Mas não é verdade. Comportar-ser adequadamente, de acordo com o ambiente e as circunstâncias continua sendo indiscutivelmente necessário e indicado para todos que desejem viver  bem e ter sucesso profissional e social. Isso porque continuamos compartilhando espaços com outras pessoas, interagindo. Então, é necessário preocupar-se  com a expectativa dos outros  quanto a nós. Todos apreciamos conviver  com pessoas bem educadas, gentis, corteses, empenhadas em respeitar o espaço coletivo e os direitos dos outros, tanto quanto apreciamos ser respeitados e ter nosso espaço preservado. Se não vivo sozinha, isolada no mundo, então preciso aprender a ceder – para bem viver em sociedade. Acredito que pode-se resumir a boa educação em duas preocupações básicas: não incomodar  e respeitar o outro. Os livros que ensinam etiquetas e boas maneiras têm boa saída no mercado literário. As pessoas os buscam, sobretudo, com foco no mercado de trabalho, que exige postura e comportamento adequados conforme a ocasião. A cada dia mais competitivo, o mercado de trabalho exige que além de apresentar diplomas, MBA, mestrados e doutorados, as pessoas também tenham boa apresentação pessoal, no  modo de se vestir e de se comportar.Também são motivadas pelo desejo de “ser chique”.  E ser chique é ser adequado, conveniente, tudo fazer para não incomodar os outros, para não desrespeitar os direitos alheios. É evitar excessos, inclusive de gentilezas, que em exagero são bajulação, e de luxos, que expressa ostentação. Pode haver algo mais brega do que a ostentação? Isso me faz lembrar um valioso ensinamento devidamente apreendido por mim quando eu tinha pouco mais de 20 anos: “quem tem, não diz que tem; que faz, não diz que faz, quem é, não diz que é. Simplesmente porque NÃO PRECISA.” Qualquer pessoa empenhada em mostrar-se rico, não o é verdadeiramente. É no máximo uma pessoa deslumbrada do tipo que “nunca comeu melado e quando come se lambuza”. Quem muito se esforça para demonstrar competência, quer na verdade esconder a inoperância e incompetência. Por aí vai.

A elegância, a cortesia, gestos e palavras gentis sempre serão apreciados pelas pessoas. São como flores num lixão ou um gole de água gelada no deserto. Têm a força mágica de um sorriso de bebê, que nos alegra a alma, mesmo quando estamos mergulhados em profunda desolação.

Em Brasília, a coordenadora pedagógica do colégio Galois, Maria Cecília Migliaccio, introduziu aulas de boas maneiras entre os componentes curriculares. Se inicialmente a idéia pareceu esquisita e anacrônica, na prática mostrou-se útil e vem recebendo total apoio dos pais e dos alunos. Atualmente, os pais ou não têm tempo para ensinar etiqueta e boas maneiras aos filhos ou não têm conhecimento desses tópicos tão relevantes para a boa interação social dos filhos. Então a ajuda da escola é muito bem vinda. Quiçá a ideia se espalhasse!

A TV Globo, com seu insistente anseio de interferir nos costumes sociais da nossa gente, bem que poderia se empenhar numa campanha social digna, ao contrário de nos “alugar” com as ridículas apologias que normalmente faz, tentando introjetar nas pessoas a aceitação de coisas inaceitáveis, como as perversões sexuais dos diretores. Volta e meia as telenovelas globais encerram  histórias com um final feliz de pessoas desleais e corruptas, casamento a três ou de evidentes tentativas de desvalorizar a família como importante pilar. E quando fazem apologia do homossexualismo, não estão preocupados com gays ou lésbicas: apenas querem usá-los para atacar a instituição família. Os homossexuais desejam ser respeitados e merecem isso, mas não precisam de gente confundindo homoafetividade com perversão e promiscuidade. Exceto para eles, que buscam aprovação social para condutas perversas e adoecidas. A reengenharia social deles é mais motivada pela busca de normalização das próprias perversões do que ideologia.

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Francisco de Assis, um santo cortês

Para São Francisco de Assis a cortesia é fundamental. Ele diz: “A cortesia é divina. Deus é cortês, porque dá o sol e a chuva aos bons e a os maus, aos justos e aos injustos”. Francisco pede aos frades para serem absolutamente corteses,  gentis e finos. Porque Deus age assim conosco; trata-nos com gentileza,  a nós que somos pecadores, miseráveis. Em vez de nos matar, continua nos amando, dando-nos tudo o que precisamos. Então ele pede aos frades que sejam “curialíssimos”, que é um termo latino para expressar o trato fino nas cúrias (cortes).

A palavra cortesia deriva da palavra corte, do gesto refinado. Os frades franciscanos eram pobres, miseráveis, vestiam-se mal, passavam fome, mas eram absolutamente delicados, refinados. Essa contradição, esse choque e esse paradoxo causavam fascínio na população.

Notamos nas orações de São Francisco, na forma como ele reza, a extrema delicadeza e o refinamento que ele tem ao falar de Nossa Senhora e dos santos. Os aditivos que ele coloca são todos aditivos de excelência, de quem cultiva este espaço interior da cortesia.

A cortesia não é uma mecânica de hábitos refinados, de quem leu manual de boas maneiras e sabe como andar, comer, se comportar. Não é só isso. A cortesia nasce de dentro, nasce da experiência e da cortesia de Deus. É o que faz você vibrar sempre na sintonia do outro. Então, Francisco era o irmão cortês que nos pede para sermos também corteses uns com os outros, no trato com os animais e com a natureza. Para RESPEITAR O PRINCÍPIO DE VIDA que há em todos e em tudo.

Fonte: TERAPEUTAS DO DESERTO – De Fílon de Alexandria e Francisco de Assis a Graf Dürckheim.

Autores: Leonardo Boff e Jean Yves Leloup               Editora: Vozes, 1997.

Concursos

Até Pelé precisava treinar

O brilhante texto abaixo, do psicólogo e hipnoterapeuta mineiro J. Augusto Mendonça,  ilustra com arte a necessidade de empenho, dedicação, persistência e treino para se obter o sucesso, seja como atleta, concursando ou em qualquer meta de vida. Uso aqui o termo “podium” como simbologia para VITÓRIA. Aprecie a metáfora que ensina como ser um campeão (ou  uma campeã).

* SUBIDA AO PODIUM

Ainda não tínhamos completado 18 anos quando fomos, pela primeira vez visitar a cidade de Santos.Depois de conhecer o centro da cidade, passear pelas praias do Gonzaga e de Zé-Menino, fomos visitar o campo do Santos Futebol Clube, na Vila Belmiro. Foi uma visita realmente sensacional. Éramos oito estudantes, ávidos por conhecer as cidades, os costumes, as gentes. E todos fanáticos por futebol. Na época, o Santos de Pelé era a grande atração.

Chegamos ao estádio no início da noite, por volta de 18h30. O porteiro, muito jeitoso, deixou que nós entrássemos para ver o campo e, pasme,  amigo leitor, para ver o Pelé! Ele mesmo, em carne e osso, sozinho, batendo bola. Todos os outros jogadores já estavam no vestiário, tomando bando ou já prontos para ir para casa. Pelé, não. Ele estava lá, batendo bola, correndo de um lado para outro, no campo.

O porteiro conversava conosco, falava do Pelé com muito orgulho. Falava de sua dedicação: chegava antes de todos para os treinos coletivos. Treinava sozinho ou com quem quisesse acompanhá-lo. A vida dele era o futebol e parecia não fazer mais nada. Era como se tivesse vindo ao mundo para jogar bola. Já era tão bom e continuava treinando. Não parava nunca. O porteiro disse que ele ia embora muito tarde; que a diretoria do clube havia dado ordens para que as luzes ficassem acessas para ele, enquanto ele estivesse lá.

Nossos olhos brilhavam, o peito se enchia à medida que o homem ia falando. E nós ali, vendo o Pelé, no treino. Não havia torcedor que não quisesse  um momento desses.

Depois saímos conversando sobre a aventura. E ficamos pensando em muitos outros atletas, em outras modalidades de esporte. Pensamos na dedicação deles, o quanto de tempo eles gastavam em treinos, preparos para, um dia, ganhar uma competição e subir ao podium.

Foi daí que nos veio a idéia: ninguém sobre ao podium no dia da competição. Os atletas que chegam ao podium começam a subir muito tempo antes da data da competição. A cada dia um pouquinho. E treinam todo dia, manhã, tarde e noite. Não param nunca, se querem realmente ser os bons. Enfrentam o tempo, o clima, a natureza. Dedicam-se com relação aos cuidados com a alimentação, ao sono. E continuam treinando, procurando ficar cada dia melhor. Até que, em um dia, muito esperado, sobem ao podium. Longa caminhada, a de um vencedor. Como Pelé.

*Extraído do livro A MAGIA DA HIPNOSE NA PSICOTERAPIA, de J. Augusto Mendonça, editora Psi, São Paulo, 1995. Página 127.

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Mente e corpo: reciprocidade

Sobre a interligação entre mente e corpo: “Qualquer coisa que aumente, diminua, limite ou amplie o poder de ação do corpo, aumenta, diminui, limita ou amplia o poder de ação da mente. E qualquer coisa que aumenta, dominui, limita ou amplia o poder de ação da mente também aumenta, diminui, limita ou amplia o poder do corpo.” Spinosa (1632-1677)

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O Pequeno Miguel e outras histórias

Ontem, minha querida sobrinha Letícia, estudante de Farmácia, mostrou-me um tesouro: um livrinho antigo, editado em 1867. Ela o encontrou no escaninho do pai, o qual ficou receoso de me emprestar tal preciosidade. Diante do meu pedido, ele fez longo silêncio, provavelmente desejando encontrar uma forma de me dizer “não”. Sem conseguir fazê-lo, começou dizendo “Tu sabe que isso é um tesouro?!”. Ao que respondi: “Sei. por isso quero emprestado, mas acaso você julga que não saberei cuidar de seu tesouro?” A contragosto ele me emprestou o livrinho, do qual tratei de copiar as partes que me interessaram. Transcrevi algumas histórias,  que o educador do século 19 julgava úteis  no ensino às crianças, mas o livrinho contém outras preciosidades históricas, que colocarei neste blog em outro momento. Por enquanto quero disponibilizar o conteúdo usado como analogias para facilitar aos professores da época (e da atualidade) lições de comportamento, moral, ética e até de noções de higiene. Realmente uma preciosidade. Os pequenos contos estão postados na página HISTÓRIAS.