Freud afirmava que “para todo evento consciente há sempre um inconsciente que o determina”. Isso fala da ausência de autodomínio consciente em determinadas demandas humanas, como o desejo de parar de beber e de fumar. Alcoolistas e fumantes sabem que não se trata de falta de vontade ou empenho, mas de estar sob domínio de uma “força maior”. Sim, a força dos complexos. Por trás do vício de fumar ou de beber pode estar uma fixação na fase oral, período do desenvolvimento humano em que a zona erógena é a boca, também a fonte de recompensa e satisfação psicoemocional. O jogador Sócrates, que admitia ter desenvolvido complicações hepáticas por consumo exagerado de álcool, é exemplo concreto de que não basta saber ou querer. Ele era médico, obviamente conhecia os malefícios que o álcool causa ao organismo. E deve ter tentado NÃO BEBER. Sem sucesso, pelo visto, já que acabou por morrer em decorrência de complicações na saúde provocadas pelo alcoolismo. Quando psicanalistas e psicólogos de orientação analítica defendem que as pessoas não conseguem resolver sozinhas problemas psicoemocionais que afetam seus comportamentos, surge sempre quem se oponha à ideia do determinismo psicológico. Mas a observação do cotidiano, assim como pesquisas e estudos acadêmicos seguem reforçando essa afirmação. Me oponho radicalmente a propostas de autoajuda e de terapias meramente comportamentais para lidar com compulsões, vícios e outras complicações causadas por profundos e inconscientes complexos psicológicos. Relembrar, Reviver e Elaborar (ou Recordar,Repetir e Elaborar). O famoso RRE da técnica psicanalista é condição fundamental na maioria dos casos para esvaziar os complexos e libertar as pessoas das forças psíquicas inconscientes que afetam o bom funcionamento das emoções, dos pensamentos e comportamentos das pessoas.
Sócrates sucumbiu vítima do alcoolismo. E mostrou que não basta ser bem informado. É preciso coragem para procurar a causa mais profunda.
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