Você sabe o que é “sugar daddy“? E “sugar mommy”? Você pode até não saber e eu vou entender. Eu própria entrei em contato com esses conceitos dois dias atrás. Mas olhe: o perigo é seu filho ou sua filha adolescente saberem. Uma das minhas paciente, aos de 16 anos de idade, e as coleguinhas dela sabem; uma delas chegou a se cadastrar no site que oferece esse “serviço”. A minha expectativa, no entanto, é de que as autoridades policiais, sobretudo as que atuam para coibir pedofilia pela internet saibam o que é e atuem em defesa dos nossos menores de idade.
Vejam a explicação que encontrei na internet: “sugar daddy é o velhote rico e generoso que dá presentes caros para uma namorada jovem“. Entenda que o termo namorada aí é puro eufemismo. Sugar daddy, no meu ponto der vista, é prostituição no sentido mais antigo da palavra. E pior – e o que mais me assustou – é também uma porta escancarada para a pedofilia. Na prática, é o uso da internet para mediar a exploração sexual, inclusive de menores. A perplexidade não para aí. Ao entrar no site, no rodapé, estão listadas empresas patrocinadoras do site. E adivinha quais? Rede Globo, Rede TV, GNT, Revista Forbes, Yahoo e Trip Linhas Aéreas. Todas, claro, defendendo os próprios interesses comerciais. Ah! Sugar Mommy é a versão feminina da coisa!
De acordo com o relato da adolescente, a amiga dela havia se cadastrado sem qualquer dificuldade, isto é, não havia impedimento para menores de idade! Então fui testar, usando um email fake (não prossegui até concluir o cadastro porque estava enojada demais e não tenho o sangue frio dos investigadores desse tipo de abuso). Bom, no início da primeira página há um termo de adesão, avisando ser necessário ter no mínimo 18 anos de idade… mas e daí? O (a) menor pode mentir, esconder a idade real. Isso exime o site de responsabilidade pelo risco de envolver menores? Por que não pedem CPF e checam, por exemplo? Para preservar a privacidade? Alegação fraca: é possível conhecer nome e idade do cadastrado, entre outros dados, e preservar a privacidade. Para isso existem os nickies (ou apelidos). O fato de o próprio menor ter-se cadastrado espontaneamente elimina o traço de abuso e/ou aliciamento? Entendo com convicção que NÃO. Posso até reconhecer o direito de uma mulher adulta ou de um homem que já atingiu a maioridade escolher a prostituição como fonte de renda. Isso é uma escolha e os adultos ganham essa prerrogativa ao saírem da adolescência. E eles arcam com os efeitos das próprias escolhas. No entanto, quando envolve relacionamento entre um menor de idade e uma pessoa que seja pelo menos cinco anos mais velha que a criança ou o adolescente fica configurado abuso.
Ninguém ignora que uma criança ou um adolescente ainda não tem a personalidade formada, apesar das estimulações precoces da atualidade, que não tem convicções nem conhecimento suficiente sobre as mazelas da humanidade, nem é capaz de compreender de forma ampla as implicações entre ação e reação/ato e consequências futuras. Tanto é assim que a minha paciente levou o assunto para conversar justamente porque estava desconfiando “ser uma coisa suja“, nas palavras dela, mas não tinha certeza disso. Contou que quando conversaram sobre o assunto, ela e as amiguinhas tinham dúvidas sobre isso ser ou não uma fonte digna de renda – o que vinham procurando. Na dúvida, ela quis ouvir minha opinião, já que não tinha coragem de abrir-se com os pais.
É claro que um homem adulto sabe ser convincente, sabe reconhecer os interesses de uma jovem e oferecer/prometer exatamente o que terá o poder de aliciá-la. E isso é crime. Aliciar, seduzir menores de idade é crime, é abuso sexual contra menores. Pouco importa se nos moldes antigos, convencionais, ou recorrendo aos avanços tecnológicos.
Pra finalizar, estou consciente de que a ideia veio de fora, especificamente dos Estados Unidos, e que a mim não compete avaliar como a coisa funciona lá. Preocupa-me como essa mediação tecnológica para um crime tão vil esteja funcionando aqui no Brasil, principalmente neste momento de tamanha frouxidão moral e impunidade generalizada a favor dos transgressores das leis e dos direitos fundamentais do ser humano. E certamente não é por razão diversa que muitos estrangeiros vêm ao nosso País em busca de turismo sexual.
O que leva as empresas citadas a patrocinarem algo assim, honestamente não está lá muito claro para mim: ainda acredito na humanidade. Certamente não é por ingenuidade. Talvez sejam razões semelhantes às que levam essas e outras a patrocinarem lixos como Big Brother, Fazenda, Casa dos Artistas ou coisa do gênero. Minha expectativa é de que a Polícia Federal já esteja no encalço dos abusadores. Desta vez ficarei feliz em estar desatualizada e descobrir que há muito o tema já é objeto de investigação policial. Finalmente, vou abster-me de informar a qual site me refiro para não colaborar, nem minimamente, com a divulgação desse lixo.