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DF perde até para município no cuidado com a saúde mental

Um exemplo do que justifica o título acima é Uberlândia, que tem pouco mais de 700 mil habitantes, de acordo com senso do IBGE de 2021, e um PIB próximo a 37 bilhões de reais ( é o 27º maior do Brasil). Em 2022, o município conseguiu a segunda melhor nota do País no Ranking de Competitividade dos Municípios no critério Acesso à Saúde. Apesar de ser uma cidade pequena, em abril do ano passado a população de Uberlândia ganhou um centro de referência para assistência de pessoas com autismo. Uma preciosidade de dar inveja a qualquer profissional comprometido com a defesa da saúde mental.

Antes de prosseguir, vamos a um pequeno comparativo financeiro com o DF, onde a saúde mental agoniza: o PIB aqui passa de 260 bilhões de reais (8ª posição no ranking nacional). A população do DF é quatro vezes maior do que a de Uberlândia, mas o PIB daqui é sete vezes maior do que a desse município mineiro! Portanto, não dá para aceitar que seja por falta de dinheiro que os serviços de saúde por aqui estejam tão negligenciados, de modo particular a saúde mental e os serviços da Atenção Primária.

As demandas pediátricas da população, por exemplo, estão sendo violentamente ignoradas. Crianças estão desenvolvendo quadros de ansiedade e desequilíbrio psicoemocional a ponto de muitos fazerem tentativas de suicídio (atendi na semana passada um caso de um garoto de 10 anos de idade com quadro grave de ansiedade generalizada, depressão e tentativa de suicídio). Não se pode ignorar que queixas simples de uma criança, como um transtorno alimentar leve ou alteração no sono por falta de determinados nutrientes possam se agravar e afetar a saúde mental delas. Mais ainda se as mães também perderem o equilíbrio psicoemocional (e por consequência adoecerem as crianças) ao não conseguirem assistência médica adequada para os filhos. Os processos vitais dos seres humanos estão sempre interligados e nunca são isolados!

Os “gestores” da Secretaria de Saúde vivem defendendo que saúde mental deve ser olhada pelo ângulo do psicossocial, mas isso não se reverte em ação pragmática, ao contrário; não passa de narrativa vazia e falácia para oferecer atendimento meia-boca para a população. Muitos sequer entendem o conceito de psicossocial.

Outro fato importante: a incidência de autismo no mundo e no Brasil aumentou de forma assustadora e o DF não é exceção. Em 2011, quando comecei a atender na Secretaria de Saúde do GDF, lotada no Centro de Orientação Médico Psicopedagógico (COMPP) apareciam poucos autistas; nos anos seguintes, idem. Atualmente, ironizamos a situação dizendo que em breve o quadro vai se inverter: não autistas serão a minoria. E não estou exagerando. Os quadros variam de leve a muito grave.

O que aflige muito os profissionais sérios e os familiares de indivíduos dentro do espectro autista é saber que existe um contingente de crianças que ficam no limbo, isto é, sem atendimento por não se enquadrarem nos critérios de inclusão em serviço CAPSi nem nos do COMPP. A janela de tempo para as necessárias e profícuas intervenções precoces se perde e os casos se agravam, deixando de ser casos de fácil intervenção para tornarem-se casos moderados ou graves e passarem a exigir intervenção medicamentosa. Aliás, esse é outro aspecto crítico: o GDF gasta elevadas somas com remédios por não investir em prevenção, redução de agravamento nem em qualidade de equipes especializadas. Investindo em treinamento e contratação de mão-de-obra qualificada, o governo local reduziria em muito (ou evitaria) a necessidade de uso de medicação. Os laboratórios agradecem. A população em geral paga caro.

Finalizando, voltemos ao caso de Uberlândia: o centro de referência para assistência de pessoas com autismo já funciona há um ano e oferece atendimentos em psicologia, clínica geral, fonoaudiologia, fisioterapia, pedagogia e neuropsicologia, além de treino de Atividades de Vida Diária (AVD). Para saber mais sobre essa incrível iniciativa, uma verdadeira demonstração de respeito com a população e bom uso do dinheiro público, clique no link CENTRO DE REFERÊNCIA EM AUTISMO DE UBERLÂNDIA

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