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A irreversibilidade da maternidade e da paternidade

Em momento de rara lucidez a produção do programa da Ana Maria Braga (Mais Você) levou ao estúdio uma pessoa que realmente tinha algo a dizer, o psiquiatra Fábio Barbirato. O assunto era o comportamento violento de jovens. O médico explicou o que nós terapeutas temos vontade de gritar pelas ruas naqueles caminhões de música baiana: “a responsabilidade de educar e orientar seu filho é sua e não pode ser transferida para ninguém, nem para a babá, a professora, diretora da escola ou  terapeuta. Taqmbém não funciona pedir ao pediatra um remedinho pra curar ele das condutas indesejáveis.” É isso, esses jovens que tocam fogo em índio, agridem professores ou outros jovens nas ruas, shopping centers ou saída de boates fazem isso porque para eles faltou pai e mãe orientando, dando limites. Pais da classe média para cima erram mais nesse aspecto por dois motivos.  Primeiro: acreditam que conseguem suprir ausências e omissões deles com presentes, concessões de todo tipo e confundindo amor com permissividade. Segundo motivo: distanciamento de Deus e da noção de respeito ao próximo – o que, obviamente, não têm como ensinar aos filhos, uma vez que essa diretriz não existe dentro deles.

Assista à ENTREVISTA.

Você que é pai ou mãe: Ninguém pode substituir você nessa função. Essa atribuição não pode ser delegada a ninguém, nem mesmo à avó da criança.

Bom, mas não vou me estender no comentário. Fábio Barbirato escreveu um livro e as ideia dele podem ser lidas em “A Mente do Seu Filho: Como Estimular as Crianças e Identificar os Distúrbios Psicológicos na Infância”. O livro aborda as causas de transtornos como agressividade, birra e timidez, e indica como avaliar quando eles são normais e quando devem ser tratados.

A negligência de homens e mulheres no cuidado com os próprios filhos revolta a nós psicoterapeutas porque constatamos em consultório que a maioria absoluta dos transtornos mentais e dificuldades psicoemocionais e comportamentais das pessoas que nos procuram, adultos e crianças, têm origem no ambiente familiar, em decorrência do “manejo” de pais e mães equivocados ou de outros adultos (i) responsáveis. E se uma babá perversa causa desajuste psicológico numa criança, ainda assim a responsabilidade é dos pais.

Há poucas coisas na vida que são irreversíveis. Ser pai e mãe é a principal. Resolveu ter filho? O resultado dessa decisão  é para sempre. Então faça direito. Se não sabe como, procure descobrir. Se não quisesse essa responsabilidade deveria ter comprado um bebê de plástico. Já existem alguns no mercado que são cópias fieis de bebês vivos. Só que ninguém tem o direito de se esquecer que esses últimos fazem cocô, choram, pedem comiga, companhia e educação.  A irreversibilidade de ser  pai e mãe só perde em importância para o oposto disso: a morte, isto é, matar uma pessoa.

Fabio Barbirato é psiquiatra, professor de psiquiatria infantil (PUC-Rio) e de medicina (Souza Marques). Ex-presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil do Rio de Janeiro, atualmente é responsável pelo setor de psiquiatria infantil da Santa Casa de Misericórdia.

A Mente do Seu Filho tem uma coautora: Gabriela Dias, mestre em psiquiatria e saúde mental pela UFRJ e especialista em saúde mental e desenvolvimento infantil pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Silvia coordena o Programa de Avaliação e Atendimento ao Pré-Escolar do setor de psiquiatria infantil na Santa Casa de Misericórdia do Rio. É também professora da Faculdade de Medicina Souza Marques.

Para quem gosta do estilo, o livro pode ser adquirido também no formato e-book, isto é, em versão eletrônica. Particularmente não gosto; prefiro sentir a textura e o cheiro do papel; coisa de quem já passou dos 40, talvez.

2 comentários em “A irreversibilidade da maternidade e da paternidade”

  1. Prezada Carmelita,
    Importante o seu alerta (ou pedido de socorro). Sem dúvida alguma, pai e mãe é coisa insubstituível, haja vista os casos de adotados, que apesar da sorte de encontrarem excelentes pais adotivos, não abandonam o desejo de conhecer seus pais biológicos.
    Mas me parece que a questão não se resolve com o chamamento à responsabilidade dos pais. Ela é fruto de mudanças sociais e na família. Os casamentos múltiplos, a mulher tabalhando fora, a dissolução do parentesco, as dificuldades de relacionamento entre padrastos e enteados. Lembremos que Stephen Bidulph lembra que o menino que mais sofre com estas transformações, por falta de uma figura masculina com quem se identificar, admirar, e estruturar sua personalidade. A questão é ampla.Falham também a sociedade e os governos.Não há substitutos na escola, religião ou em outros grupos sociais. Era preciso que a escola ganhasse nova atribuição, a da educação emocional dos jovens. Me parece que há experiências positivas neste sentido nos EUA.

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