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Diálogos imaginativos na elaboração de conflitos

A seguir, uma explicação resumida de como funciona uma técnica da Gestalt-terapia usada na elaboração de conflitos internos, traumas e “gestalten abertas”. Terapeutas junguianos e psicodramatistas também recorrem a essa técnica, denominada de “cadeira vazia” pelos gestaltistas:

Todos nós carregamos partes do nosso passado, distante ou recente, na forma de lembranças. Muitas das imagens e fantasias que chamamos de recordações são diferentes das coisas e eventos que realmente aconteceram. Podemos guardar percepções “distorcidas” dos fatos, o que não desqualifica essas percepções: distorcidas ou não elas existem dentro de nós, sendo de certo modo “reais”. Mas nossas imagens – mesmo sendo exatas – são apenas imagens e não os próprios fatos.

Algumas pessoas estão de tal forma carregadas do passado e envolvidas pelas lembranças de experiências vividas que possuem muito pouco envolvimento com o presente. Para reduzir o envolvimento  com as recordações é preciso se entregar a elas, em momentos e espaços apropriados, e descobrir qual é a percepção oculta que há na pessoa relacionada a essas recordações. Para isso, em processo terapêutico, pode-se recorrer ao diálogo imaginativo e à identificação. O envolvimento com a recordação, antes de ela ser elaborada e deixada de lado, dá à pessoa algo. Pode ser uma percepção, um insight sobre alguma coisa até então inconsciente, mas que vinha afetando a pessoa, ou uma compreensão diferente da predominante. Esse “achado” é muito importante para a pessoa descobrir qual necessidade o organismo (psíquico ou físico) precisa se atendida.

Se a recordação é desagradável, provavelmente existe uma situação inacabada, que está retida e não foi totalmente expressa. Ao fazer contato com essa situação inacabada, a pessoa pode redescobrir os sentimentos não-expressos e elaborá-los, percebê-los de forma adequada, isto é, atualizar a experiência.

A prática do diálogo imaginativo com alguém que não esteja presente no plano concreto (cadeira vazia), numa conversa como se estivesse falando com alguém, é importante porque desenvolve (ou recupera) na pessoa a capacidade de se relacionar com os outros, de fazer contato com outras pessoas (como também de perceber as próprias emoções, seus pensamentos e sentimentos). Reduz a atividade autista, isto é, de criação de um mundo autônomo e individual.

Por meio dessa técnica a pessoa começa a recupera o contato com o mundo e com as próprias experiências. Além disso, os diálogos esclarecem situações de conflito. No entanto, é preciso disposição para sofrer a parte desagradável da experiência e deixar que se expressem os dois lados do conflito.

Funciona melhor quando é feito em lugar e momento em que a pessoa possa falar alto e deixar todo o corpo expressar as emoções – por meio de gesticulações ou quaisquer outros movimentos corporais. Muitas vezes o tom de voz, um dedo em riste, um cenho franzido, punho fechado, ombros caídos ou outras reações expressam as coisas melhor do que as palavras. É muito importante “presentificar”  a totalidade da experiência.

Geralmente somos desequilibrados porque nos identificamos mais com uma parte do conflito e não percebemos nossa parte envolvida no lado oposto. Quando os dois lados ficam claros a partir da identificação – com as duas partes – nos tornamos mais equilibrados. A resolução do conflito libera a energia presa na luta entre as partes em oposição e a energia fica disponível, propiciando o aumento da vitalidade e gerando a sensação de clareza, força e poder. IMPORTANTE: esse processo não é algo que pode ser forçado ou manipulado. Ele acontece por si só quando a pessoa aprofunda a identificação e a consciência de ambos os lados.

Fonte: livro TORNAR-SE PRESENTE, John Stevens