.Página Principal

A psicoterapia online precisa entrar em pauta

Quase dois anos atrás o especialista em segurança em internet Rodrigo Fragola publicou no blog dele (Blog do Fragola) o texto Psicoterapia online: uma alternativa de atendimento, mencionando minha pesquisa na UnB sobre psicoterapia online. Passado todo esse tempo, nada evoluiu em relação ao assunto, infelizmente. No entanto, mais pesquisas foram iniciadas e alguns artigos acadêmicos em português já podem ser encontrados. Sugiro, de modo particular, um que li ontem,  da Maria Adélia Minghelli Pieta, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, intitulado Psicoterapia pela Internet: viável ou inviável? A minha pesquisa de mestrado foi concluída e, como eu esperava, os resultados confirmaram as expectativas favoráveis e demonstraram tanto a viabilidade quanto a eficácia (embora a pesquisa não fosse sobre eficácia, propriamente dita). Aos interessados no tema, a dissertação completa foi publicada no Repositório Institucional da UnB:  RIUnB/Aliança terapêutica na psicoterapia breve online.  A pesquisa teórica de Pietá e a minha são concordantes em um aspecto: a simples proibição do serviço não resolve o problema. Existe a demanda pelo serviço  e a falta  de regulamentação para a prática dele não vai obstar sua propagação. Ao contrário, a omissão contém riscos e não são poucos. Acredito ser necessário que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) volte a analisar o tema e reconheça a necessidade de autorizar a prática, com os devidos parâmetros norteadores que assegurem o serviço e a segurança das pessoas. Cursos de treinamento e restrições à prática dele de  forma indiscriminada são algumas das medidas que podem propiciar segurança ao exercício da terapia online. Concordo com Pietá quando ela coloca que o bom caminho para a prática da psicoterapia online será descoberto à medida que começarmos a caminhar (o caminho se faz ao caminhar). Apenas ignorar o assunto, fingir-se de morto e não se posicionar sobre esta nova demanda social pode ser arriscado, na medida em que as pessoas vão ignorar a restrição do CFP e fazer terapia online sem os devidos cuidados. E os pacientes, sem conhecimento do que seja o serviço e quais riscos estão envolvidos, irão confiar em quem  o oferece, apoiando-se tão somente no senso ético dos profissionais, o que considero muito pouco, em se tratando de Brasil. Que me perdoem os brasileiros, mas ética é aspecto bem pouco considerado no nosso país, quase que de forma generalizada. Isso é o que me preocupa. Um país que reelege políticos de condutas duvidosas… somos apenas uma população  de inocentes e ingênuos ou a impunidade às transgressões está mais relacionada ao que chamamos de identificação (consciente ou inconsciente) com os transgressores da Lei? Até que ponto a distância, o relativo anonimato e a confiança na impunidade podem levar a prática nociva dessa possibilidade de ajuda?